segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Santamarenses


Como dizia Tolstói, “se queres ser universal, canta primeiro a tua aldeia”. Os santamarenses, que querem mesmo é que esse tal de Tolstói se exploda justamente porque ele não nasceu em Santo Amaro, talvez não queiram ser universais mas cantam essa nossa aldeia em alto e bom som (reconheçamos, em som muuuuuuuito alto!). Repletos de paixão e de chumbo, os santamarenses, no afã de cantar as grandezas dessa aldeia (perdão, desta cidade), não sentem qualquer pudor em burlar, em manipular, em atropelar, em estuprar a História. Onde é que foi dado o primeiro passo para a Independência, hein? Meu filho, o que seria do Brasil sem a nossa presença na Guerra do Paraguai? Quem tiver dúvidas que vá perguntar aos velhinhos lânguidos, saudosos dos tempos áureos dos engenhos de açúcar, do bonde puxado a burro e do Tiro de Guerra.
Exímios fuçadores das raízes das árvores genealógicas, os santamarenses (mesmo aqueles “bem moreninhos”) vivem em busca do elo perdido entre eles e os componentes das raças Barões, Condes, Viscondes, Conselheiros, etc., etc. Ou seja, todo mundo aqui quer ser parente de um desses indivíduos bondosos que colaboraram para que os negros fossem retirados da África para serem muito bem tratados na civilização dos canaviais.
No final das contas, o que todos os nascidos nesta terra briosa e altaneira querem dizer em uníssono é: se você não é santamarense o problema é todo seu.
Este texto é dedicado à memória do Conselheiro Saraiva, notório santamarense criador da Lei dos Sexagenários, aquela que libertava os escravos que completassem 60 anos de idade. (Tá certo que nenhum escravo chegava a essa idade, mas a lei foi criada por um santamarense e eu não quero nem saber).

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